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8. Combate de pragas por meio da utilização de insecticidas

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8.1 Insecticidas
8.2 Técnicas de aplicação
8.3 Cálculo da dosagem de insecticidas
8.4 Medidas de precaução
8.5 Equipamento
8.6 Referências literárias

 

No combate contra as pragas existem dois tipos de tratamentos complementarios: as medidas preventivas e as curativas. As medidas preventivas, as quais consistem sobretudo em dispor de construções de armazenagem adequadas e na observância cuidadosa de todas as medidas referentes à higiene, formam a base de qualquer combate contra as pragas. Sem estas medidas, todas as demais nem surtem efeito, nem são rentáveis. As medidas de combate das pragas são descritas detalhadamente na secção 5.2; a secção 3.3 também contem informações importantes ao respeito.

A medida curativa mais importante utilizada no combate contra as pragas que atacam os produtos armazenados, é a aplicação de produtos químicos. Distingue-se entre os insecticidas e os fumigatórios (veja-se capítulo 9).

As partes deste capítulo que tratam do uso de insecticidas referem-se exclusivamente a casos de armazenagem centralizada. A aplicação de insecticidas ao nível de pequenas herdades e tratada na secção 4.4.3. As outras partes deste capítulo referem-se conjuntamente aos dois tipos de armazenagem.

8.1 Insecticidas

8.1.1 Princípios gerais

· Os insecticidas são sempre utilizados adicionalmente às medidas de higiene e nunca como substituição das mesmas.

· Uma infestação grave dificulta considerávelmente o combate com insecticidas. Por isso, deve-se cuidar de combater uma infestação em devido tempo.

· A escolha dos produtos certos deve ser feita considerando os aspectos seguintes:

· espécies de insectos presentes (sensitividade, resistência)

· método de armazenagem (em sacos ou a granel)

· condições climáticas (decomposição dos produtos pela humidade e por altas temperaturas)

· natureza dos produtos armazenados

· restrições legais (utilize só produtos autorizados. No caso que o país não tenha uma legislação correspondente, atenha-se ao código de conduta FAO/WHO)

· disponibilidade e preço.

· Os insecticidas não devem ser armazenados por mais tempo que o indicado como data limite. Compre só a quantidade necessária para um período de armazenagem (veja-se também secção 8.4) para que o produto não fique demasiado tempo sem ser utilizado e para evitar uma decomposição do mesmo.

· É aconselhável trocar de matéria activa (se for possível) todos os anos para evitar o desenvolvimento de resistências.

· As medidas de precaução que se referem ao uso de insecticidas devem sempre ser observadas. Deve-se prestar uma atenção especial aos símbolos de perigo indicados sobre as embalagens. Estes chamam a atenção da pessoa que vai utilizar o insecticida para os perigos particulares do produto escolhido (veja-se também secção 8.4.2).

8.1.2 Campo de aplicação ao nível de armazenagem centralizada

Uma gestão correcta e normas de higiene rigorosas são as condições fundamentais do sucesso no combate das pragas.

No caso de uma armazenagem central, p.ex. em depôsitos, podem ser observados os seguintes campos de aplicação para insecticidas:

Tratamento de superfície dos locais vazios

Trata-se de um método de combate curativo eficaz para limpar o lugar de armazenagem antes da entrada de mercadoria nova. Deve-se cuidar de utilizar os insecticidas apropriados. Os efeitos das formulações EC sobre as superficies são geralmente muito fracos, as formulações WP mostram melhores resultados. Todos os insecticidas são mais persistentes sobre superfícies lisas de cimento que sobre superfícies rugosas e alcalinas (caiadas). Vários testes de laboratório efectuados na Alemanha mostraram que as matérias activas tetraclorvinphos, deltametrina e phoxime apresentam bons resultados de conjunto.

Vários testes efectuados durante os últimos anos mostraram que a pulverização residual de superfícies como p.ex. paredes e solos não érentável, já que a actividade residual da maioria dos insecticidas nessas condições é muito curta. Sobre superfícies absorventes como p.ex. paredes caiadas, cimento e blocos, a actividade residual dos insecticidas égeralmente muito breve, não importando o tipo de matéria activa ou formulação utilizados. As piretrinas sintéticas ("piretroidas") fazem a excepção, eles são bastante mais persistentes. Como protecção residual das superfícies, parece que os pós inertes oferecem um potencial considerável (veja-se secção 10.2).

É evidente que os insecticidas são muito mais efectivos sobre as superfícies limpas que sobre as sujas. A limpeza dos locais vazios antes de começar com a pulverização das superfícies deve fazer parte das medidas indispensáveis e sistemáticas.

Tratamento de superfície das pilhas de sacos

Desde há muito tempo, costuma-se proteger as pilhas de sacos contra infestações por meio de um tratamento com um insecticida de contacto de acção prolongada. Não obstante, este método não e satisfactório devido àrápida decomposição dos pesticidas. Sobre superfícies não absorventes como p.ex. os sacos de polipropileno, a actividade insecticida é melhor que sobre superfícies altamente absorventes, como p.ex. os sacos de juta.

Como conclusão, pode-se recomendar a pulverização da superfície das pilhas de sacos unicamente como aplicação não residual no momento da fumigação das pilhas. Uma continua pulverização das superfícies poderia multiplicar a resistência devido à exposição repetida das populações de insectos do produto armazenado a doses subletais.

Mais eficaz seria um tratamento individual das camadas de sacos durante o empilhamento. Em todo o caso, isto parece ser menos practicável.

Uma alternativa ao tratamento de superfície consiste em recobrir a pilha de sacos com lonas leves de algodão ou de nylon como protecção contra os insectos rastejadores ou voadores. A impregnação das lonas com substâncias repelentes (p.ex. óleo de neem, veja-se secção 4.3.2.2) aumenta o efeito de protecção do produto armazenado contra infestações. Não obstante, tomam-se assim mais difíceis os controlos indispensáveis das pilhas, sem considerar os custos.

Tratamento espacial nos armazéns

A nebulização é o método mais eficaz para o tratamento espacial. Condição prévia e um armazém de fecho hermético. Este método é especialmente adequado para o combate curativodas pragas voadoras.

Para o combate preventivo das traças, penduram-se tiras de evaporação na parede do armazém fechado.

É indispensável controlar a eficiência do conjunto dos tratamentos efectuados nos armazéns.

8.1.3 Formulações

Os insecticidas vendidos no mercado pelos fabricantes são chamados produtos comerciais. Eles contêm uma ou mais matérias activas ao igual que ingredientes inertes e aditivos especiais. Estes últimos facilitam a adesão da matéria activa sobre a superfície tratada e melhoram a persistência, agem como sinergistas ou coloram simplesmente o insecticida para que seja reconhecido como tal.

Dependendo da formulação, os produtos comerciais devem ser misturados com um liquido - geralmente água - para obter uma mistura pulverizadora, ou eles são vendidos já prontos para o uso.

As formulações mais comuns são as seguintes. As abreviaturas correspondem especificações da FAO:

- Formulações em pó (DP) devem ser misturadas com o produto armazenado ou utilizadas para o tratamento de superfícies. Elas contêm entre 0.1 e 5% de matéria activa e estão prontas para o uso. Utilizam-se principalmente ao nível de armazenagem de pequenas herdades.

- Concentrados emulsionáveis (EC) para a adição ao produto ou como tratamento de superfície. Eles contêm entre 1 e 100% de matéria activa e são misturados com água, obtendo-se dessa mistura uma emulsão estável para ser utilizada sobretudo em armazéns.

- Pós melháveis (WP) para o tratamento de superfície. Eles contêm entre 10 e 50% de matéria activa. Eles são misturados com água, resultando em suspensões instáveis que devem ser constantemente remexidas para que o pó não se deposite.

- Concentrados fluidificáveis (SC) para o tratamento de superfícies. Estes são concentrados líquidos relativamente estáveis e similares às formulações EC. Até agora, eles não são usualmente utilizados no combate das pragas que atacam os produtos armazenados.

- Concentrados para a nebulização a quente (HN). Estas formulações - também chamadas 'FOG' - contêm até 100% de matéria activa. Estes concentrados vêm já prontos para o uso ou devem ser diluidos com Diesel ou querosene. Algumas formulações EC resistentes ao calor podem ser utilizadas também para a nebulização.

- Aerossois em forma de fitas de evaporação (VP) ou como caixa fumígena (FD) ou cartuchos fumigatórios (FP) para o uso no combate contra as traças. Estes produtos vêm prontos para o uso. Os cartuchos fumigatórios também são utilizados às vezes ao nível de pequenas herdades ou na armazenagem de toda uma aldeia. Estes produtos têm um bom efeito de "knock-down" sobre os insectos adultos.

- Formulações de ultra baixo volume ULV (UL) para o tratamento de superfície. Elas já vêm prontas para o uso e são aplicadas com dispositivos especiais. A sua utilização é ainda muito limitada.

8.1.4 Exigências aos insecticidas empregados na protecção dos produtos armazenados

Enquanto que existe uma grande variedade de produtos para combater as pragas antes da colheita, encontram-se só alguns poucos produtos que correspondem às exigências particulares requeridas para a protecção contra as pragas durante o período de armazenagem.

Os insecticidas para a protecção dos produtos armazenados deveriam cumprir as exigências mencionadas a seguir. Não obstante, nenhum dos produtos existentes está em condições de satisfazer todo o conjunto de exigências:

· boa eficiência contra a maioria das pragas que atacam os produtos armazenados (efeito de espectro amplo)
· persistente na eficiência
· estável sob diferentes condições climáticas
· baixa toxicidade para os animais de sangue quente
· pouca tendência a generar resistência por parte dos insectos
· não ficam resíduos nocivos nos produtos armazenados
· sem influência sobre o cheiro ou o sabor do produto armazenado
· sem reacção química com os ingredientes do produto armazenado (proteínas, lipídios, etc.)
· fácil de usar
· bom preço

Incumbe ao utilizador de escolher o insecticida correcto, o mais adequado para cumprir com as exigências especificas. As informações seguintes servem de ajuda para efectuar a escolha certa.

8.1.5 Grupos de matérias activas utilizados no combate das pragas que atacam os produtos armazenados

Existem dois grupos importantes de matérias activas utilizados na protecção do produto armazenado, os preparados organofosforados e as piretrinas:

Os preparados organofosforados

Estes preparados são efectivos contra a maioria das pragas que aparecem durante a armazenagem, com excepção dos Bostrichidae (Rhyzopertha dominica, Prostephanus truncatus, Dinoderus spp.). Alguns destes preparados são sensíveis ao calor e à humidade. Os seguintes produtos são os mais comummente utilizados:

Matéria activa Nome comercial
Pyrimiphos-metilo Actellic
Fenitrotião Folithion, Sumithion
Chlorpyrifos-metilo Reldan
Methacrifos Damfin
Diclorvos (DDVP) Nuvan, Vapona
lodofenphos Nuvanol
Tetraclorvinphos Gardona
Phoxime Baythion
Malatião Malathion, Malagrain etc.

Piretrinas sintéticas

Estes são muito efectivos no combate contra os Bostrichidae, no enquanto não tão eficiêntes contra outros tipos de coleópteros. Eles servem também no combate contra as traças. Os mais comuns são:

Matéria activa Nome comercial
Deltametrina K-Othrin
Permetrina Permethrin
Fenvalerate Sumicidin
Cyflutrina Baythroid

Produtos combinados

Os produtos combinados, chamados também formulações "cocktail", contêm um preparado organofosforado e urna piretrina. Estes produtos foram utilizados como insecticidas de espectro amplo durante alguns anos, dando bons resultados nos casos de infestação mista. Encontram-se no mercado os seguintes produtos combinados:

Matérias activas Nome comercial
Pyrimiphos-metilo + Permetrina Actellic Super
Pyrimiphos-metilo+ Deltametrina K-Othrine Combi
Fenitrotião + Cyflutrina Baythroid Combi
Fenitrotião + Fenvalerate Sumicombi

Outros grupos de matérias activas

O emprego dos hidrocarbonetos clorinados, utilizado durante muito tempo para o combate das pragas de armazenagem não é mais admissível hoje em dia devido à alta persistência e aos riscos que pode significar para a saúde.

Entre os carbamatos, o carbarilo ("Sevin") e utilizado dentro de um determinado limite para a protecção dos produtos armazenados. Ele mostrou ser bastante eficaz contra a espécie Rhyzopertha dominica.

8.1.6 Escolha do insecticida com respeito às espécies de pragas e às propriedades das superfícies a ser tratadas

· No caso de uma infestação com coleópteros não sendo os Bostrichidae, serão utilizados preparados organofosforados.

· No caso de predominar uma infestação com Bostrichidae (Rhyzopertha dominica, Prostephanus truncatus, Dinoderus spp.), recomenda-se a utilização de piretroidas.

· No caso de uma infestação mista com Bostrichidae e outras espécies de coleópteros, pode-se utilizar um insecticida combinado, sempre que isto seja permitido pela legislação local. Caso contrário, pode-se alternar a utilização de insecticidas organofosforados e piretrinas.

· No caso de uma infestação com traças, utiliza-se o organofosfato Diclorvos (DDVP). O método de aplicação mais efectivo é o da nebulização, ou então como tratamento de superfície ou utilizando fitas de evaporação.

· No referente ao tratamento das paredes caiadas (decomposição rápida da maioria dos insecticidas devido ao ambiente alcalino), recomenda-se a utilização de iodofenphos e tetraclorvinphos.

Pontos de ordem geral referentes às pulverizações das superfícies com insecticidas:

- O efeito é melhor

· sobre as superfícies limpas que sobre as sujas
· sobre as superfícies lisas que sobre as rugosas

- A persistência e melhor

· sobre madeiras e metais que sobre cimento ou superfícies alcalinas
· com formulações WP que com formulações EC

Nos próximos dois quadros, indicam-se os resultados de testes de laboratório com respeito à persistência dos insecticidas utilizados nos climas tropicais para a protecção dos produtos armazenados. Estes quadros informam sobre a escolha dos insecticidas apropriados em função das condições climáticas. Indica-se para cada espécie de praga, o período máximo com pelo menos 90% de efeito protector. Deve-se contar com efeitos residuais mais baixos na prática.

Efeito dos insecticidas utilizados para os produtos armazenados em regiões de clima árido (Temperatura: 36°C: humidade relativa: 50%)

* para 100 kg de grão (de acordo às instruções do fabricante)
¹ só sobre a descendência; sem efeito sobre os adultos

Efeito dos insecticidas utilizados para os produtos armazenados em regiões de clima húmido (Temperatura: 28°C; humidade relativa: 75%)

* para 100 kg de grão (de acordo às instruções do fabricante)

As páginas seguintes oferecem um sumário dos insecticidas utilizados comummente no combate das paragas de armazenagem e sobre as propriedades dos mesmos, ao igual que informações sobre a sua aplicação. Para cada matéria activa, existem os dados seguintes (para as definições, vejase secção 8.1.7 e 8.1.8):

· A toxicidade, indicada como DL50 oral em mg de matéria activa/kg de peso do corpo

· O limite máximo de resíduos (LMR) para os grãos de cereais em ppm, de acordo às recomendações do "Joint Codex Committee on Pesticide Residues" da FAO/WHO

· A dosagem recomendada como adição aos cereais em ppm

· A concentração recomendada para as misturas de pulverização utilizadas como tratamento de superficie em %

· Recomendações para o tratamento de espaços nos armazéns

· Observações de ordem geral

 

- Preparados organofosforados:

Clorpyrifos-metilo

DL50: 1630 - 2140 mg/kg
LMR: 10 ppm
Dosagem (adição aos cereais): 10 ppm
Dosagem (tratamento de superfície): 0.5 - 1%

Observações: Insecticida que age por contacto, ingestão e por meio de vapor. A persistência do insecticida é moderada e ele controla um amplo espectro de pragas que atacam os produtos armazenados (excepto Rhyzopertha dominica). Foram registadas resistências várias vezes em diferentes espécies de insectos.

 

Diclorvos (DDVP)

DL50: 56 - 108 rng/kg
LMR: 2 ppm
Dosagem (adição aos cereais): 2 ppm
Dosagem (tratamento de superfície): 0.250/D
Tratamento de espaço: diluir com Diesel até 1% (1 - 2 l/1000 m³); tratamento preventivo: 1 fita/30m3

Observações: Insecticida de alta pressão de vapor e um forte efeito de "knock down". Ele e eficiente contra a maioria das pragas de armazenagem.; especial mente no estádio larval dentro do grão (efeito de penetração elevado) e também contra as traças. Breve estabilidade residual. Testes efectuados recentemente mostraram que o DDVP é um cancerígeno potencial, de maneira que é muito possível que o preparado seja retirado completamente ou pelo menos restrito na sua utilização no futuro.

 

Fenitrotião

DL50: 800 mg/kg
LMR: 10 ppm
Dosagem (adição aos cereais): 10 ppm
Dosagem (tratamento de superfície): 0.5%

Observações: O fenitrotião tem um efeito de amplo espectro contra todas as espécies, embora não seja completamente efectivo contra Rhyzopertha dominica. Boa estabilidade durante mais de 12 meses. Apropriado para a utilização sob condições de armazenagem tradicionais como pó.

 

Iodofenphos

DL50: 2 100 mg/kg
LMR: nenhuma recomendação
Dosagem (tratamento de superfície): 1 - 2%

Observações: O iodofenphos é utilizado somente para o tratamento de superfície. Ele mostra um efeito de amplo espectro contra as pragas dos produtos armazenados, embora seja menos efectivo contra Rhyzopertha dominica e Trogoderma granarium. Utiliza-se frequentemente para o combate das pragas sobre as superfícies de cimento em armazéns devido à boa estabilidade mostrada sob condições alcalinas. A persistência é menor que a do fenitrotião.

 

Malatião

DL50: 2 800 mg/kg
LMR: 8 ppm
Dosagem (adição aos cereais): 8 ppm
Dosagem (tratamento de superfícies): 2%

Observações: O malatião foi amplamente utilizado durante mais de 20 anos, o que teve como consequência o desenvolvimento de uma resistência acentuada por parte das pragas que atacam os produtos armazenados em todo o mundo. Nos Estados Unidos parou-se a produção deste preparado em 1991, parcialmente como consequência de estúdios que provaram a presença muito comum de quantidades de resíduos intoleráveis nos produtos alimentícios. Em países aonde este insecticida barato e geralmente eficiente não foi aplicado tão intensivamente no passado, e aonde a resistência por parte dos insectos não é frequente, ele é ainda utilizado na armazenagem ao nível de pequenas herdades em forma de pó para a polvilhação. O malatião tem um efeito mais fraco que a maioria dos outros insecticidas organofosforados, degradando-se rapidamente sob condições quentes, húmidas e alcalinas.

 

Methacrifos

DL50: 678 mg/kg
LMR: 10 ppm
Dosagem (adição aos cereais): 10 ppm
Dosagem (tratamento de superfície): 0.5%
Tratamento de espaço: 5% como solução para atomizar (1 l/1000 m³)

Observações: O methacrifos age como veneno de contacto, de vapor e de ingestão contra as pragas mais importantes de armazenagem e os seus estádios larvais dentro do grão. Ele é efectivo contra muitos insectos resistentes ao malatião. Ele mostra um efeito de "knock-down" acentuado e combate também Rhyzopertha dominica. A degradação ocorre a temperaturas significativamente altas e na humidade.

 

Phoxime

DL50: 1 975 mg/kg
LMR: nenhuma recomendação
Dosagem (tratamento de superfície): 0.2% em armazéns vazios
Tratamento de espaço: 5% como solução para atomizar (1 - 2l/1000 m³)

Observações: O phoxime é utilizado principalmente para o tratamento de superfície e de espaço em armazéns vazios e em silos de cimento. Ele oferece um amplo espectro de actividade por meio de uma acção de ingestão e de contacto. O phoxime é um insecticida de curto prazo e efeito de "knock-down". Ele mostra resistência cruzada nos insectos resistentes ao malatião.

 

Pyrimiphos-metilo

DL50: 2 050 mg/kg
LMR: 10 ppm
Dosagem (adição aos cereais): 10 ppm
Dosagem (tratamento de superfície): 0.5%
Tratamento de espaço: diluir com Diesel até 5% (1 - 2l/1000 m³)

Observações: O pyrimiphos-metylilo é um insecticida de amplo espectro e acção rápida por contacto e por vapor. Ele oferece um efeito prolongado frente a uma grande quantidade de pragas que atacam os produtos armazenados, mas não é suficientemente efectivo contra Rhyzopertha dominica. O seu efeito pode ser comparado com o do fenitrotião e o do clorpyrifos-metilo, embora o pyrimiphos-metilo pareça ser mais potente contra as espécies resistentes ao malatião. Nos últimos anos, registaram-se ocasionalmente casos de resistências contra o pyrimiphos-metilo.

 

Tetraclorvinphos

DL50: 4 000 mg/kg
LMR: nenhuma recomendação
Dosagem (adição aos cereais): 15 ppm
Dosagem (tratamento de superfície): 1 - 2%

Observações: Este insecticida mostrou ser efectivo contra muitas espécies de pragas que atacam os produtos armazenados. Ele é muito persistente sobre superfícies alcalinas, sendo por isso utilizado para o tratamento estrutural em armazéns e silos de cimento.

 

- Piretroidas:

Cyflutrina

DL50: 500 mg/kg
LMR: 2 ppm (na Austrália)
Dosagem (adição aos cereais): 1 - 2 ppm
Dosagem (tratamento de superfície): 0.4 - 0.8%

Observações: A cyflutrina oferece uma protecção fiável para os produtos armazenados contra o ataque de insectos rasteiros e voadores. Ela combate espécies de insectos resistentes aos preparados organofosforados. A sua actividade residual é prolongada, também sobre as superfícies alcalinas

 

Deltametrina

DL50: 135 - 5 000 mg/kg
LMR: 1 ppm
Dosagem (adição aos cereais): 1 ppm
Dosagem (tratamento de superfície): 0.1 - 0.15%
Tratamento de espaço: diluir com Diesel até 1% (1 l/1000 m³)

Observações: A deltamethrine é uma das matérias activas mais potentes dentro do grupo das piretroidas. Ela é efectiva contra a maioria das pragas de armazenagem (excepção: Sitophilus spp.), particularmente contra todas as espécies da família dos Bostrichidae como Rhyzopertha dominica e Prostephanus truncatus. A sua acção é retardada mas de longa duração.

 

Fenvalerate

DL50: 451 mg/kg
LMR: 2 ppm
Dosagem (adição aos cereais): 2 ppm
Dosagem (tratamento de superfície): 0.5%

Observações: O fenvalerate mostrou ser efectivo contra Rhyzopertha dominica. Ele age por contacto e veneno de ingestão contra a maioria das espécies de insectos e tem uma estabilidade adequada.

 

Permetrina

DL50: 430 - 4 000 mg/kg
LMR: 2 ppm
Dosagem (adição aos cereais): 2 ppm
Dosagem (tratamento de superfície): 0.25%

Observações: A permetrina é efectiva contra muitas espécies de pragas que atacam os produtos armazenados, particularmente contra Rhyzopertha dominica e Prostephanus truncatus, embora mostre uma acção reduzida frente às espécies de Tribolium. Ela é muito fiável quando for utilizada em combinação com insecticidas organofosforados, mostrando uma estabilidade prolongada.

 

- Produtos combinados:

As dosagens seguintes dos produtos combinados são aplicáveis como adição por mistura aos cereais armazenados, presentados em forma de pós para polvilhações:

Fenitrotião + Cyflutrina: 8 + 0.2 ppm
Fenitrotião + Fenvalerate: 5 + 1 ppm
Pyrimiphos-metilo + Deltametrina: 5 + 0.5 ppm
Pyrimiphos-metilo + Permetrina: 8 + 1.5 ppm

Devido a dificuldade de determinar os efeitos sinergéticos possíveis, a FAO/WHO não definiu ainda os valores de LMR.

8.1.7 Toxicidade dos insecticidas

Os insecticidas não são só tóxicos para os organismos alvo, mas também até certo ponto para os seres humanos, os animais e o meio-ambiente.

A "DL50" de um insecticida é utilizada para estimar o perigo potencial do mesmo. DL significa Dose Letal. A DL50 vem exprimida em miligramas (mg) do insecticida concernente por quilograma de peso do corpo do animal experimental, geralmente ratos. A DL50 e a quantidade de uma matéria activa que leva à morte de 50% dos animais experimentais depois de só uma aplicação. Devido a que a toxicidade de um insecticida também varia de acordo ao tipo de contacto com o corpo, diferencia-se entre a DL50 (oral) e a DL50 (dermal).

Os insecticidas são classificados de acordo à sua toxicidade da forma seguinte:

Classificação

DL50 para ratos (mg/kg de peso)

  oral dermal
Extremamente perigoso debaixo de 25 debaixo de 50
Muito perigoso 25- 200 50- 400
Moderadamente perigoso 200 - 2 000 400 - 2 000
Pouco perigoso mais de 2 000 mais de 2 000

A DL50 aplica-se à matéria activa pura de um insecticida, embora a concentração e o tipo de formulação e aplicação também sejam factores importantes. Insecticidas com uma DL50 alta, têm um valor de toxicidade aguda relativamente baixa. Não obstante, isto não afecta o risco de danos para a saúde a longo prazo (doenças crónicas).

Para poder estimar os efeitos a longo prazo de um insecticida, utiliza-se a noção "dose sem efeito". Esta dose é geralmente representada pela abreviação NOAEL (no observed adverse effect level). Trata-se neste caso da concentração mais alta de uma matéria activa em mg/kg de peso do animal experimental, administrada diariamente no ramo de um teste a longo prazo sem causar sintomas de envenenamento.

Este valor é dividido por um factor de segurança, geralmente 100. O resultado é a quantidade máxima de um matéria activa (em mg/kg de peso do corpo) que uma pessoa pode consumir diariamente sem ter que temer danos para a sua saúde, naturalmente de acordo ao estado de conhecimento actual. Este valor é chamado ADI (acceptable daily intake ou dose diária aceitável). Lamentavelmente faltam dados adequados no referente sobretudo aos efeitos das combinações de uma série de produtos químicos.

8.1.8 Resíduos

Urna contaminação com resíduos de insecticidas ocorre principalmente e sobretudo ao consumir produtos contaminados. Os insecticidas e os seus produtos de descomposição ainda podem ser encontrados como resíduos em produtos tratados bastante tempo atrás. Se o insecticida em questão éaltamente tóxico, podem ocorrer danos imediatos à saúde (veja-se secção 8.4.3).

As matérias activas que são quimicamente muito estáveis e de descomposição lenta (p.ex. os que têm uma alta persistência) podem presentar efeitos a longo prazo. Mesmo no caso de uma toxicidade aguda menor, eles podem ocasionar um envenenamento crónico como consequência da sua acumulação, particularmente no tecido adiposo. Isto é o que acontece por exemplo com DDT e os outros hidrocarbonetos clorinados. Lamentavelmente, estes são ainda utilizados para o cambate das pragas de armazenagem., apesar de estar proibidos oficialmente na maioria dos países.

Para proteger o consumidor, existem para todos os insecticidas os "Limites Máximos de Resíduos" (LMR) admissíveis nos produtos alimentícios tratados. Devido a que uma grande parte do insecticida é descomposto durante a transformação, são permitidos limites de resíduos mais altos em produtos primários (p.ex. cereal cru) que nos produtos transformados (p.ex. farinha). Isto significa que pessoas que consumem alimentos com resíduos de insecticidas os quais não excedem os LMR, não vão alcançar o valor ADI (dose diária aceitável) (veja-se secção 8.1.7).

Já que é possível que um produto tratado, p.ex. um cereal, seja consumido logo depois de ser tratado, a quantidade de insecticida aplicada não deve exceder os limites máximos de resíduos admissíveis. Esta exigência forma parte das recomendações do Joint Codex Committee da FAO/WHO e das legislações nacionais.

A preocupação pela saúde humana provocou nos últimos anos o desenvolvimento de novas noções para a evaluação toxicológica dos insecticidas. Neste sentido foi introduzida a TMDI (dose teórica máxima diária), a qual se baseia na multiplicação do valor LMR dos produtos básicos da alimentação nacional e do consumo diário estimado.

Diante a tarefa quase impossível de predizer a TMDI, a FAO/WHO fez a proposição de utilizar a dose diária máxima estimada (EMDI) para poder oferecer aos consumidores valores mais realistas sobre os riscos para a saúde. Um aperfeiçoamento foi introduzido com a noção da dose diária estimada (EDI). Não obstante, o cálculo destes factores só é possível em países com dados básicos dignos de confiança, o que reduz o valor práctico do método.

Para manter o mais baixo possível a dose de insecticidas, devem ser observadas as medidas seguintes:

- Utilizar só matérias activas e formulações que são oficialmente aprovadas para o uso no combate de pragas na armazenagem!

- Respeitar estritamente as doses de aplicação recomendadas!

- Tratar o produto armazenado só urna vez e evitar a dosagem excessiva!

- Evitar tratamentos desnecessários com insecticidas!

- Não tratar o produto pouco tempo antes de ser vendido ou consumido!

8.1.9 Resistência

Fala-se de resistência, quando urna infestação de pragas não pode mais ser controlada pela dose de aplicação origináriamente recomendada de um insecticida. O desenvolvimento de uma resistência é o resultado de um processo de selecção. Dentro de uma população de pragas, encontram-se sempre alguns individuos que reagem de maneira menos sensível que a maioria dos outros a um tratamento com insecticida. Eles podem assim sobreviver e se reproduzir. Ao conseguir isto, eles passam a insensibilidade à próxima geração. Passa-se então depois de um determinado tempo, por um processo de selecção de insectos resistentes.

As espécies de insectos com uma alta taxa de reprodução (períodos curtos de gerações, grande quantidade de descendentes) desenvolvem uma resistência mais rapidamente do que outras. O clima nas regiões tropicais e os curtos períodos entre as gerações resultantes, favorecem consideravelmente o desenvolvimento da resistência. O processo do desenvolvimento de resistência é ainda favorecido no caso de:

· utilizar a mesma matéria activa durante um longo período
· uma degradação parcial do insecticida devido a uma armazenagem prolongada
· utilizar quantidades insuficientes de insecticida
· uma distribuição desigual da matéria activa
· efectuar frequentemente aplicações de insecticidas
· existir condições de higiene insuficientes.

Uma população de insectos pode-se voltar resistente a dois insecticidas diferentes, mesmo no caso de ter sido tratada só com um deles. Este fenómeno é chamado de resistência cruzada e pode ocorrer também quando dois insecticidas pertencem a grupos químicos diferentes.

Quando os insectos mostram resistência frente a diferentes matérias activas, ao igual que frente a diferentes grupos de insecticidas, fala-se de uma resistência múltiple.

Distingue-se entre várias formas de resistência:

- Resistência fisiológica: os insectos têm a faculdade de neutralizar a matéria activa no seu metabolismo antes de que possa agir toxicamente.

- Resistência morfológica: os insectos adaptaram a sua estrutura física, p.ex. por meio de uma camada de cera ou pêlos, para evitar a penetração do insecticida dentro do corpo.

- Resistência por comportamento: os insecticidas evitam activamente o contacto com o insecticida.

As seguintes medidas deveriam ser tomadas para evitar o desenvolvimento de uma resistência:

- Mude de matéria activa regularmente (se for possível uma vez por ano)!
- Use insecticidas só no caso de existir condições de higiene perfeitas!
- Assegure-se que a dosagem e a aplicação sejam efectuadas correctamente!
- Não utilze insecticidas se não for necessário!

Um aumento da quantidade do insecticida não é solução e só genera mais resistência. Além disso, o método não é nem económico, nem permitido, devido às estipulações legais sobre o limites máximos de resíduos.

Nota: A aplicação intensiva do malatião nos últimos anos ocasionou uma resistência frente a este insecticida em todo o mundo. Por isso, não é mais possível recomendar o mesmo para o combate das pragas de armazenagem. Os insectos resistentes ao malatião presentam frequentemente resistências cruzadas frente a preparados organofosforados mais novos.

Deve ser considerado também o facto, que as resistências frente ao clorpyrifosmetilo são muito frequentes e que apareceram as primeiras resistências frente ao pyrimiphos-metilo em países aonde a aplicação deste produto é muito divulgada. As espécies de insectos resistentes são susceptíveis de se expandir em todo o mundo por meio do comércio.


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